quinta-feira, 31 de julho de 2008

Reencontro

Voltámos a estar juntos. Senti o cheiro da união que nos era característico.
Saímos para mais uma noite, que não foi só mais uma noite, mas sim a nossa. Sentámo-nos num bar repleto de livros, fotografias de nus artísticos a preto e branco, enfeites marroquinos e sons que não são nossos mas que gostamos de ouvir como música de fundo.
Voltámos ao nosso convívio com outros temas, com novas ideias, com novos sabores gustativos, com novas experiências. Partilhámos.
Entre moscatéis, cervejas, águas com gás sem sabor, pipocas picantes e tiras de milho, soltaram-se risos tão típicos de cada um, expressões saudosas que nos levam à felicidade do passado. Sentiu-se os olhares comprometidos aquando certos temas, sentiu-se a tensão disfarçada que nos é difícil de esconder, sentiu-se o carinho, o afecto, a cumplicidade, o silêncio. Afinal, conhecemo-nos tão bem.
E assim surgiu o reinício de algo, de nós enquanto um todo.

Este post é dedicado a Eles!




quarta-feira, 30 de julho de 2008

A História das Coisas

Fui roubar este video à nossa querida amiga batata selvagem ao seu blog porque não pude deixar de o fazer, tendo em conta a importância deste, e sublinhando as suas palavras, quando há tanta coisa sem importancia e qualidade na nossa tv, porque não "perdermos" (prefiro dizer dedicarmos) 20 minutos do nosso inútil tempo a ver o que se segue?

Prazer

Porque raio quando conhecemos alguém, temos logo o impulso de nos mostrarmos egoístas e invejosos?
"Olá eu sou a Fulana de Tal, muito prazer"
"O prazer é todo meu"
Mas porque é que o prazer há-de ser todo teu?
Porque não há-de a senhora dona Fulana de Tal compartilhar também algum desse teu "excessivo" prazer?
Estás realmente a ser invejoso e egoísta ou estás a querer dizer que o prazer é todo teu porque da parte dela não há que ter prazer absolutamente nenhum visto que tu...não sabes dar prazer?...Ou...ou estás-te a cagar se ela tem ou não prazer desde que tu tenhas?...Ou...ou...ainda estou em estado de choque ou estado clínico ou estado de choque clínico por ter morto a formiga, afogando-a brutalmente e contente com o amarelo esbranquiçado do meu mijo amarelado?

Ode à Cerveja


Amarelo e branco, amarelo e branco num esbranquiçado amarelecido por frescos goles de gás e espuma.

Alcool liquidificado para o bem e o mal humorado, entretém sem desdém o sóbrio e o embriagado.

Néctar divino de excesso clandestino, de conteúdo vitamínico, vomitado em estado clínico.

Cerveja, quem te veja sem te beber não prova o sabor de te apetecer.

Mal dizem de ti, mal-dizentes, bendita poção de indulgentes,

Inspiras a confusão da lúcida deturpação.

Matas-me a sede e matas-me.

A sede que em ti morre, de mim

No bem estar decadente de não estar a chegar ao fim.

Bebo-te, consumo-te, compro-te, gasto-te, gastei-te, bebi-te, comprei-te, consumi-te...Mijo o mijo que me mija a bexiga contra a parede, contra a formiga, trabalhadora, inocente, embriagado matei a formiga...contente.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Excerto de um texto de Almada Negreiros com o qual meus pensamentos se indentificam


"Ah! que eu sinto, claramente, que nasci de uma praga de ciúmes!
Eu sou as sete pragas sobre o Nilo e a Alma dos Bórgias a penar!
Tu, que te dizes Homem!
Tu, que te alfaiatas em modas e fazes cartazes dos fatos que vestes
p'ra que se não vejam as nódoas de baixo!
Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias, as Políticas, as Artes e as Leis, e outros quebra-cabeças de sala e outros dramas de grande espectáculo
Tu, que aperfeiçoas sabiamente a arte de matar.
Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança e o Caminho Marítimo da índia e as duas Grandes Américas, e que levaste a chatice a estas Terras e que trouxeste de lá mais gente p'raqui e qu'inda por cima cantaste estes Feitos...
Tu, qu'inventaste a chatice e o balão, e que farto de te chateares no chão te foste chatear no ar, e qu'inda foste inventar submarinos p'ra te chateares também por debaixo d'água,
Tu, que tens a mania das Invenções e das Descobertas e que nunca descobriste que eras bruto, e que nunca inventaste a maneira de o não seres
Tu consegues ser cada vez mais besta e a este progresso chamas Civilização!"

Almada Negreiros - Cena do Ódio

Versos Inversos

Partindo do princípio de que tudo tem um fim, vamos começar por acabar o final deste início...
Tudo o que tenho está cheio de nada...vazio de coisas transbordantes, como o valor de coisas insignificantes. Nada que eu tenha feito não é tudo o que venha a fazer, porque me lembra no passado o que no futuro vou esquecer.
Viver depois da morte é melhor do que morrer na vida, porque na vida não há sorte que o azar não dê guarida.
Não interessa se temos pressa quando o tempo é uma preocupação.
Preocupo-me se o momento é fruto da minha imaginação.
Não vejo o que vislumbro porque de olhos fechados vou sonhar.
Ofuscam-me os raios de sol que me aquecem o despertar.
Come, bebe, vive, mata, morre, reproduz, dá á luz, apaga a luz, acende a luz, faz frio, faz calor, não faças nada que hoje não chove.
O governo de regime, o dinheiro incita o crime.
É pior mas não faz mal.
Um final feliz acaba sempre mal

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Resposta ao Ódios de Estimação

Então e que tal vivermos num meio onde as pessoas não tenham orgulho da merda que são?
Até tolero o facto de serem uma merda. Mas até se sentirem superiores por isso é que ja se torna mais aborrecido.
Não encontro justificação plausível para o facto de alguém totalmente desprovido de educação, andar com um nariz mais empinado do que o mastro que sustenta a bandeira nacional aqui na minha junta de freguesia.
Os vossos papás não vos deram a devida educação e agora eu é que tenho que vos aturar é?
Tens um bom emprego, uma boa conta bancária, uma gaja toda boa e um carro que vai dos zero aos cem enquanto a tua mãe come mais um doutor que te arranjou uma cunha a lamber botas na mais conceituada empresa de beija cús.
Antes de vos atribuir o prémio d'o meu O.E predilecto, o meu instinto manda-me sentir pena de vocês. Quanto maior é a vossa arrogância, menor é a vossa existência.
Sim, o meu ódio de estimação é a sociedade comum.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Fictício


Tu que te pavoneias pela multidão exibindo uma brancura suja, destrois o belo com a tua imagem e presença.
Vestes-te de miséria e vomitas coágulos de artificialidade nos teus monólogos. Cheiras a podridão e a declínio e nem te dás conta que estás mais que morto.
Oh! Rogas pragas aos que te ignoram. Gritas aos teus fantasmas que te deixaram no vazio do teu ser.
Quem te dera a ti que te humilhassem! Mas as pessoas não ligam aos mortos que insistem em manter-se vivos. O que deixas atrás de ti são réstias de desprezo cultivadas pelo teu ego amargo.
Agora banqueia-te, nos jardins vazios e abandonados ao som das folhagens mortas, com aquilo que semeaste.


Clareza Turva

Pedras, paredes e beatas.
Luzes, sons e maravilhas.
Coisas únicas são vistas todos os dias.
Á noite vislumbramos o que não se vê.
Aparência, aparência, atitude e decadência.
Somos cobaias da ciência que nos mata para nos criar.
Somos criados ou malcriados.
Não somos nada, porque temos tudo para nada ser.
Fumos, odores e confusão.
Divertimo-nos com o que está á mão.
Dar á mão é a melhor diversão.
Vais para aqui e para acolá.
Vens-te por ali porque lá já não dá.
Voltas e dás a volta sem chegar ao mesmo sítio.
Queres tudo e nada tens, porque só tens o que não queres.
Rock & Roll, Rock & Roll, ouves na chuva enquanto faz sol.
Perdeste, ganhaste, fodeste, fumaste.
Rock & Roll, vamos embora qua a imperial é a um euro.
Quanto custa a imperial? um euro!
Quero um milhão de imperiais, quero o euromilhões em cerveja.
A sífilis e a gonorreia.
A cirrose já remedeia.
Distorção, distorcido.
Nublado, enaltecido.
Conspurcado, enternecido.
Lalala, Rock & Roll esteja duro ou esteja mole.
Confusão, masturbação, gotas e fedor na palma da mão.
Taxi! Taxi! quero ir para casa, Já é tarde e o amanhã chega cedo.
Sinto receio de não ter medo.
Não tenho dinheiro se partir o mealheiro.
Não quero gastar e ficar de mãos a abanar.
Quero abanar a mão que me dá diversão.
Sempre a voar, sempre a a voar.
Rock e Sexo, Drogas Enrole
Caracol, caracol.
Distorção, confusão
Música, ambiente
Éter na Mente, eternamente.

terça-feira, 22 de julho de 2008

"Inteligência" Artificial

Silicone nas mamas, silicone nos lábios, botox na cara, peeling no focinho, unhas de gel, pestanas de plástico, químicos de mil e uma côres para os olhos...
Minhas queridas, MINHAS QUERIDAS!!!
Aceitam uma sugestão?
Arranquem todos os vossos dentes, um por um, coloquem um aro na boca "et voilá" sois a boneca insuflável do futuro.

Compreensão Escrita, Desentendimento Verbal

Páginas escritas nas entrelinhas da mentira, revelam-me a verdade omitida pela razão.
Ouço agora o som do desfolhar de mais uma vida, inanimada no papel cuidadosamente amarrotado.
Não consigo deixar de pensar no que poderia ter escrito se nunca tivesse aprendido a revoltar-me. Mas sou um conformado silencioso e só a tinta da caneta me ouve falar com a melancolia dos meus pensamentos.
Sinto saudades de não ser compreendido e sinto saudades de nada sentir quando sentiam que eu nada dizia, a não ser que o que dissesse, teria sentido.
Não gosto de ler o que escrevo porque não concordo com a discórdia dos que lêem o que não sei o que digo.
"Não sabes o que dizes!" Por isso escrevo, porque a escrever me ouço e me compreendo melhor do que ninguém que me leia nos lábios ressequidos pela verdade mentirosa desta surreal realidade.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Diários de um reflexo conformado

Cheguei a casa. A noite ainda vai baixa.
Deixo a porta atrás de mim fechar-se e afasto-me. Sinto-me aborrecido e calmo demais.
Há muito que não sinto que a respiração já não me perdoa e que o coração me corre a mil. Mesmo assim nunca o sofá me pareceu tão agradável. Imagens de um dia normal nem se atrevem a cruzar a minha mente.
Não valem a pena. Nem pesam o esforço.
Olho para a minha arma. Olho para o meu distintivo. Pesam-me os dois. Já são muitos anos nisto. Mas gosto do seu brilho, do poder e da responsabilidade que lhes reconheço.
Olho para as minhas mãos. Velhas, sem brilho e sem poder, perdendo parte da responsabilidade quando nuas da companhia das fieis amigas.
Hoje, e mais uma vez, estou infeliz. Nem me consigo rir. Nem um esboço consigo soltar. E olho para a porta, essa porta que só me aponta um caminho..o mesmo de sempre. Aquele que nunca devia ter tomado. Mas o único para o qual eu nasci. Servir a lei.
Sou um sintoma da sociedade e estou conformadamente adaptado.
Toca o telemovel. A mesma vozinha irritante do oficial de serviço a avisar que tinhamos um caso.
Merda. O dia todo na esquadra a arquivar processos e agora que chego a casa...Calo-me.
Não te esforces.
Conforma-te e pega nas chaves do carro e vai á esquadra!
Estaciono o carro. Não tenho uma cara simpática nem me esforço por parece-lo e isso é facilmente depreendido pelo estupido do maçarico que está á porta da esquadra.
O oficial de serviço, pergunto a mostrar os pêlos do nariz.
Saiu para beber um café ali mais á frente.
Não gosto da resposta.
Ele percebeu que não gosto da resposta e recua ligeiramente.
Ele percebeu que não gosto da resposta e que não tem culpa nenhuma mas vai ser ele a levar com a bronca. E quando me preparo para o tornar num dos meus Òdios de Estimação eis que aparece o dito oficial.
Boa noite.
Boa noite, pergunto-me eu?
Respira..bem fundo.
Isso.
Relaxa.
Relaxa. É que nem olhes para ele.
Deixa-o passar por ti e morde o lábio.
Não cometas os mesmos erros do passado e entra atras dele.
Que se passa, queres saber.
Um assassinato de um homem, aparentemente de origem brasileira no centro de lisboa.
Finalmente.Algo com que me entreter.
E esboço um sorriso bem pintadinho de várias cores. Algo novo. Algo diferente.
Algo que para o qual já não era chamado á muito tempo devido ao murro, justo e bem dado, que dei ao meu anterior sub-chefe.
Agarra esta oportunidade, penso. Ligo o carro e, epá, que se lixe, vou ligar as sirenes a esta hora da noite e tudo!
Aparato policial. Enorme.
Um jornalista ao fundo dirije-me a palavra.
Dirijo-lhe desprezo.
Mando sair o pessoal.
Sempre tive uma atitude hollywoodesca ao cumprir o meu dever.
Aliás, foi por causa dos filmes que sou polícia.
E olho o corpo. Olho em redor.
Vejo uma caixa multibanco a menos de dois metros. Podemos tentar a videovigilância. Difícil.
Uma loja de roupa em frente, do lado oposto da rua. Também pode ter câmaras.
Uma curva á esquerda um pouco mais abaixo dificultava a visibilidade de quem pudesse vir dali.
Atrás de mim um jardim. Tenho de mandar alguem procurar carochos ou vagabundos deste parque para saber se viram alguma coisa.
E olho novamente para o corpo.
Pobre coitado. Lá estavas tu no local errado para ti e altura certa para alguem.
Mas quem?
A carteira continua no bolso. As calças continuam no sítio.
Seis ou talvez sete facadas lhe marcam o corpo.
Isto é estranho. Os olhos estão fechados e têm marcas de sangue.
Confusão.
Tentar perceber um crime desta natureza é o mesmo que ensinar um chimpanzé a escrever. Não entra. Nem quero que aconteça.
Olho o corpo outra vez.
Vou analisar. E sinto-me a crescer por dentro.
Agora sim.
Estou feliz!! Vou viver!!
Se sou um polícia? Sou de certeza. Há muito descobri a minha vocação.
Nunca trabalharia numa copa de um hotel, por exemplo.
E vou encontrar este desgraçado.
Até porque ando de pistola na mão.. todos os dias!!

Ficha técnica

Nenhum brasileiro foi aleijado, morto ou sofreu quaisquer danos físicos durante a realização do post " Diários de um sintoma inadaptado"..
Quanto aos danos morais.. Só se forem mesmo burros!
:)

80's




Luz, Monitor, Teclado, Acção!
No final de mais um dia de trabalho, e mais um dia de cansaço, ainda encontrei na minha reserva de energia, algumas forças para aceitar um convite para uma festa alusiva aos anos 80.
Combinei com uns amigos e metêmo-nos no metro. Lá fomos desfiando conversa por entre as estações que abrandavam gradualmente até que acabavam por parar. Abriam-se as portas do veículo de três carruagens (à noite são só três) para dar entrada e saída a mais utentes e transeuntes, cada um com o seu destino.
Quando chegámos ainda fizémos um compasso de espera, á espera de mais um amigo, que não tardava a aparecer mas os minutos passavam velozmente contra a happy hour até á uma da manhã.
...

Estamos todos e vamos lá então á festança que se situava na cave do interior de um centro comercial.
Á medida que desciamos as escadas acompanhadas de um corrimão verde que nos sugeria curvas e contracurvas, omitindo o desfecho do destino destes degraus, intervalados em breves compassos de azuleijos planos, sentiamos, entoando pelo eco das paredes do recinto, os primeiros sinais de vida sonora, coloridos com uma música da blondie.
Até que nos deparámos de imediato com a entrada, ocupada por individuos de indumentária negra, sendo um deles o porteiro que se prontificou a ambientalizar-nos da quantia a pagar e respectivas condições.
Pagas 6 euros, tens a happy hour até á uma da manhã (faltavam 13 minutos) e tens ainda direito a duas bebidas: cerveja ou refrigerante. Em frente estava o bengaleiro e uma caixa de pastilhas gorila.
Tenho que mencionar que as três primeiras cervejas foram quase de penalty?
As três primeiras cervejas foram quase de penalty, e estava um calor ensurdecedor lá dentro.
Começa um rol de músicas que me eram conhecidas, anteriormente apresentadas pela minha irmã á cerca de sensivelmente muitos anos atrás para ser mais preciso.
Eu e a minha irmã temos 11 anos de diferença e foi com ela que conheci este tipo de música e ambiente.
O suor escorría-nos pela cara e era quase escusado tentarmos conversar porque o barulho era tão quente que uma sauna não produziria o efeito desejado tão facilmente como naquela festa.
Apesar de tudo o ambeinte estava extremamente agradável e as músicas sempre apelativas, quer fosse á dança quer fosse á lembrança.
Deambulavam vultos pela pista por vezes entorpecida pela máquina que lança aquela névoa branca e intensa, e com a ajuda do strob e a violência da suavidade do jogo de luzes e escuiridão, lá nos deixávamos embalar com o corpo numa linguagem de dança e empurrões involuntários, confundidos por olhares breves e curiosos que atravessavam o interior daquela década de 80.
Como pontos altos da noite tivémos o rebel yell do billy idol e a paixão dos heróis do mar, não esquecendo o elevador da glória dos rádio macau que me acompanhou uma vez mais ao bar, desta vez para gastar a minha primeira bebida grátis após o expirar do prazo dos 13 felizes minutos.
Música para aqui, música para ali e ora enverdavam por uma onda mais rock, ou mais gótica ou mais gay.
It's raining men marcou presença e foi nessa altura que comecei a preparar a minha ausência...
Preconceitos á parte mas sentía-me esgotado por culpa do meu patrão que me fez cumprir mais um dia de cansaço, a trabalhar.
Gostei de alguns pormenores como uma televisão ligada a fazer chuva, junto á mesa do dj, e alguns videowalls com imagens do space invaders e talvez do pacman...se não era ele, estava lá perto.
A nossa ilustre tweezers esteve também presente na festa e vou desde já passar o meu testemulho para a continuação deste texto, que se se torna mais longo, mais aborrecido acabará por se tornar.

Diários de um sintoma inadaptado

Cheguei a casa. A noite já vai alta.
Encosto-me á porta que fecha atrás de mim. A respiração não me perdoa e o coração corre a mil. Imagens de uma noite perfeita revelam-se na minha mente.
Não param.
Não quero que parem.
Olho para as mãos. Pingam no chão. Sujam-me a entrada. Sujaram as escadas que me trouxeram até aqui. Mas só consigo sentir prazer no liquido que lhes escorre. Gosto da cor, gosto do sabor, gosto de ver as minhas mãos pintadas desta maneira.
A respiração acalma. O coração descansa.
Passo as mãos pela camisa. Fica pintada de vermelho. Vermelho escuro. Vermelho quente. Vermelho sangue! E levo os dedos á boca uma vez mais. Ó doce sabor quente do sangue de alguém. Alguém que já não se pode arrepender por se ter cruzado comigo hoje á noite.
Sim.
Hoje, finalmente estou feliz. Já me consigo rir. E não consigo parar de rir. Gargalhadas soltas enquanto me sento encostado á porta. A mesma porta que não me dava nada senão uma vida de futilidades e incertezas, agora, aponta-me um caminho.
O caminho certo. Aquele que já devia ter tomado á muito. Aquele que ansiava por chegar sem nunca perceber o que era.
Sou apenas um reflexo daquilo que vejo, sinto, cheiro e existo!
Sou um inadaptado e vou continuar a sê-lo!
Vou continuar a matar como matei hoje.
Não vou parar. Não posso. Não quero.
Foi bom demais para desistir á primeira!
Conheci-o á entrada do metro depois de mais um dia inútil na minha vida. Um domingo onde todos se passeiam, pavoneiam ou refletem as suas vidinhas inúteis numa qualquer esplanada ou praia ou puta que os pariu!
Perguntou-me se tinha um cigarro.
Brasileiro.
Fechei os maxilares com força.
Detesto que me cravem tabaco. Ainda por cima com as vogais tão abertas, típicas de um sul- americano qualquer!
Disse-lhe que sim.
Tirei o maço do bolso e elevei um dos cigarros para lhe facilitar a toma.
Ele agradeceu.
Eu, fiz um esforço e amarelei um sorriso.
Mal o dele.
Não percebeu o amarelo do sorriso e voltou á carga. Abriu as vogais por demais e perguntou se por acaso não tinha um euro pa comé quauké cóisá pô?
Guardei o tabaco.
Sorri mas dei-lhe um tom mais colorido desta vez. Agora sorri mesmo!
Não tenho dinheiro comigo, respondi. Mas podemos ir ao multibanco aqui já em baixo se tiveres muito aflito.
Tou pô!
Graças a Deus me respondeu assim!
Vamos ao multibanco então, continuei, andando.
Cê é o maió legau!..... Cada frase dele me pedia cá dentro que continuasse a massajar a faca que tinha no bolso. Não sei porquê mas ando com uma faca no bolso á um mês. Talvez raiva ou pura inadaptação por esta sociedade nojenta e decadente de lapas como este porco que tanto desprezo e tanto vou gostar de ver partir!
Cada olhar de soslaio que lhe mandava só me animava e entusiasmava!
O multibanco aproximava-se e a conversa dele só me enojava mais e mais.
Quando chegamos meto a mão ao bolso e finjo procurar o cartão. O pedaço de carne á minha frente continuava com vogais abertas a saírem-lhe da boca e olhava sem parar para todos os lados enquanto esmifrava a última réstia de filtro que o Ventil lhe proporcionava!
Deixa-o acabar o cigarro.
Assim que os últimos restos de prazer que esta besta teve na vida caírem no chão, vou tirar a mão do bolso e apresentar-me...
Olá meu flho da puta. Sou quem te vai matar!
O olhar que me lançou instantes antes de o primeiro centímetro lhe ser cravado na barriga é como..sei lá.. não consigo descrever! Nem quero. Fica comigo na memória. E passo essa imagem vezes sem conta. E já nem conto as vezes que me rio quando disso me lembro. Que prazer!
A primeira, a segunda, a terceira facada com força. Resistência. Mas que é isso pô?..pergunto eu!? Abre as vogais agora..grita..mas pára de resistir!
Foda-se!!
Quarta, quinta, sexta facada.. desiste! Porra! Até que enfim.
Desfalece para mim. Isso!
Conforma-te
Conforma-te
Não me implores enquanto cospes sangue, caralho!
Ès indiferente demais para mim para me preocupar contigo!
Isso..Vá lá.
Conforma-te porque já nada podes fazer! Não lutes. Isso!
Deixa-te ir. Deixa-te levar. Já não tens força. Nem queres ter força!
Morre. Não lutes. Isso!
Morre. Morre para mim.
Não é nada contra ti. Não é nada contra vocês que falam com vogais mais abertas que a língua portuguesa aceita! Apenas estavas no local errado na altura certa para mim!
Até podias falar suomi que me estava a cagar. Desde que esta faca tivesse onde entrar!
Isso!
Olha para mim enquanto morres! OLHA PARA MIM!
Já não consegue. Admiro-te agora. Agora temos algo em comum, pedaço de carne.
Faço parte da tua vida! E da tua morte. Pesas-me nos braços. Largo-te no chão com respeito. Pinto-te os olhos de vermelho ao fecha-los, de um vermelho que de dentro de ti saíu.
Morreste e contigo levas uma profunda paixão que senti ao matar-te! Apaixonei-me pela forma como morreste. Não te podes queixar. Estive contigo no momento mais importante da tua vida. A tua própria morte.
E vou continuar com um sorriso sincero na boca enquanto adormeço encostado á porta da minha casa.
Levo as mãos á boca uma vez mais. O sangue secou. Já não sabe bem.
Amanhã é um novo dia. Novo sangue virá.
Agora sim...vou viver!!
E já agora vou documentar isto para a posterioridade.
Sou um psicopata? Se calhar sou. Se calhar descobri a minha vocação.
Eu bem me parecia que trabalhar na copa de um hotel não era um designio de vida para ninguem.
Mas tenho de continuar a lavar pratos.
E hei-de trazer uma faca nova todos os dias!!!

domingo, 20 de julho de 2008

Odios de estimação


Nem todos conseguem distinguir/perceber que têm ou, o que raio é, um ódio de estimação.
E não estou aqui a falar de ódio. Atenção. Òdio puro não.
Aí é que está.
Nem gosto da palavra nem gosto do sentimento. Ódio, por si só, é forte e estupido demais para entrar nos meus planos. Combina muito com rancor. Também não me dou bem com isso. Associo o rancor á estagnação. Ter rancor não me deixa ultrapassar certas situações ou momentos. Mas isso são outros quinhentos.
Agora, adocicar a palavra "ódio" espetando-lhe com "de estimação" em cima, já transforma completamente a coisa.
E aí já começa a haver um sentimento dúbio que nos atravessa.
Não gosto porque gosto de não gostar.
Uns aceitam-no sem perceber. Outros percebem- no e aceitam. E gostam.
De não gostar.
Outros ainda há que não sabem, não querem saber e têm raiva a quem saiba mas, desses não reza a minha historia.
E há aqueles que só odeiam ou só amam. Não têm o prazer de um ódio de estimação que, para mim, é um sentimento que fica um pouco no meio dos dois.
E fica muito complicado tentar explicar-lhes o que é, vou-lhe chamar, um certo guilty pleasure no O.E..
Tentar explicar o que é um O.E. a alguém que, pouco menos casto é que a Virgem Maria, há-de ser uma tarefa fútil e sem sucesso.
Explicar a um "sócio" do "guéto"..também é "foriro"! Apesar de, num universo bem grande de seres humanos, os "dreads" são dos que mais O.E. coleccionam, só porque, num enorme cardápio de estupidez, gostam de odiar. Simplesmente odiar. Mas não entendem o conceito real de um O.E.
E atenção que já vos estou a revelar um dos meus O.E.
O que é, então um O.E., pessoal que percebe, pessoal que não percebe, pessoal que não sabe, dreads, freiras e pessoal que só está a ler isto porque não têm mais nada que fazer com a vida, senão ler posts patetas em blogs excelentes?
Um O.E. é algo que todos gostamos de ter. É aquilo com o qual gostamos de embirrar. Só porque ele/ela/aquilo existe. E tudo o que deles sai provoca comichão no intelecto e no fundo da nossa existência.
Muitos, é verdade, falam sem conhecimento de causa. Ai o vizinho do lado fala mal de ele/ela/aquilo eu também tenho de falar. Vai ser esse o meu O.E.!
Isso não é o verdadeiro conceito de "ódio de estimação"!
Hipocrisia..não leias o que vem a seguir!
O.E. é aquilo que vemos ou ouvimos só para falar mal. Só para apontar defeitos porque...sim!! Porque é, ele\ela\aquilo, que está á nossa frente! Ele\ela\aquilo apenas..é ou está!
E aqui é que está o prazer morbido da coisa. Quase masoquismo.
Não gostamos mas temos de ver, ouvir, falar, comentar e criticar. E gostamos de não gostar. Gostamos de gostar de não gostar.
Porque é sordidamente agradável criticar o próximo. É facil atacar o diferente. Leva-nos a um certo estado de supremacia e superioridade perante o alvo das nossas críticas.
Gostamos de saber, sentir e acreditar, que há pessoas piores do que nós e isso alivia-nos a consciência de merdas que tenhamos feito, por vezes piores ainda que as dos nossos O.E:.
E é tão bom ter O.E..
Eu incluo-me nos que têm, que percebem e que gostam de gostar de não gostar disto, daquilo ou de outro.
Um dos meus ódios de estimação são, por exemplo, os Pet Shop Boys! Que é aquilo?
Ou as cervejas sem álcool. Qual é a ideia? Deixa de ser cerveja e passa a sumo de cevada! Não tem lógica! Os antigos egipcios andam ás voltas nos túmulos improvisados em museus pelo esses mundo fora, desde que descobriram que alguém teve a estupida ideia de fazer uma bebida "alcoolica" sem "alcool"!!
Podia ficar aqui a noite toda a falar dos meus ódios de estimação como os "wanna be´s" sejam eles do que quer que seja, dos tuning boys, das águas com sabores, e atenção que, aqui faço uma nova pausa para dedicar a um dos meus O.E. preferidos!!
As águas com sabores!
Porquê meu?? É contra-natura. Há 50 anos atrás, se a água tivesse sabor é porque estavas a beber esgoto meu! A água é suposto não ter sabor malta! Tipo...hein? Tipo, bebam Sumol ou outra coisa.
E passo a citar umas quaisquer meninas fúteis que por aí andam e parece bem passear com garrafas de água com sabores:
- O que é isso querida?
- Ah é água com sabor a banana, presunto de porco preto e cajús da América do Sul.
- Ai sabor exótico!!
- Muito bom, minha rica, fresquinho nesta altura do ano que está tanto calor!
- Minha mafarrica!
Sei lá.. Até aparvalho quando penso nisso. NÃO..TEM..LÓGICA!!
E depois há os O.E. populares e habituais. Aqueles que já toda a gente fala mal porque...verdade seja dita. Também o andam a pedir.
Um dos principais O.E. deste nosso jardim á beira mar deixado é sem dúvida o Sr. José Castelo Branco. Todos cascam no homem\mulher.
Ou outro que agora, até eu nutro uma certa raivazinha pelo personagem, Rui Santos, o comentador de desporto da Sic Notícias. Como é possível não discordar de certas e determinadas posições daquele comentarista, e, principalmente, como é possivel não discordar daquele cabelo?! Já nem entro nos óculos, fico-me pelo cabelo. Escargots na cabeça com aquele volume é uma ofensa á integridade física das minha lentes de contacto.
Ou o governo, mas esse já reune toda uma panóplia de amores\ódios\O.E. que quase não conta para o Totobola.
Todo um mundo novo para descobrir e falar mal.
Remexer na merda é mau e cheira mal, mas como é que vais saber que cheira mal se não lhe fores mexer com um pau e inspirares bem fundo?
Deixo aqui um desafio a quem teve a pachorra de ler isto até ao fim. Digam quais são os vossos O.E.!
Exorcizem os vossos pequenos demónios.
Peguem nos vossos paus mentais e chafurdem com violência!
Mas inspirem com muita força porque se não..vão apenas ser alvo de O.E. do vizinho do lado.

O.E.O.E.O.E.O.O.O.E.O.O!!!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Ás voltas com a revolta


Estou aqui hoje para expressar pequenas revoltas que me têm atormentado a vida ultimamente. Coisas simples e banais mas que quando repetidas até á axaustão fazem perder a paciência até a um santo que não pretendo ser.
Incautos, acautelem-se porque não vou distribuir flores.
Primeiro: Parem de dizer que eu estou magro. Ao principio até era agradável e fazia-me elevar o ego de tal maneira que até o podia distribuir pelos mais pobres. Agora já começa a ser demais. Estou com 77 quilos. O meu peso ideal. Escanzelado chama-me a minha mãe que até já quer que vá ao médico ver o que se passa. No trabalho, com os amigos, eu até acho que já me chamaram "freak" no metro. Estou a brincar, mas a sério, estou farto. Deixem-me em paz. E não me perguntem o que fiz para emagrecer desta maneira porque não sei. Não estou com mau aspecto e sinto-me bem. Deslarguem-me, desdeixem-me e desdesaparecam.
Outra revolta que tenho é para com os call centers e os patetas que lá trabalham que, como não têm capacidade para arranjar emprego noutro lado, vão atender telefonemas. Toda a gente sabe atender um telefone. Saber resolver problemas é que não é para todos. Ligo para o call center da tmn para fazer uma mudança da morada na qual iria receber uma placa de banda larga portatil. Primeiro sou transferido de assistente em assistente até chegar, finalmente, a um que me atende. Faço a dita mudança de morada, é confirmado, ontem recebo uma mensagem de reconfirmaçao da morada. Hoje ligam-me de manha a rereconfirmar a morada....errada! E dizem-me que houve um mal entendido ( mal entendido????) e estavam na primeira morada porque não tinham feito a troca a tempo!
Mas o que é isto? Está tudo estupido? Se calhar o meu mal foi não ter rererereconfirmado!!
Cócó para voces inumeros energumenos!
Outra coisa que me anda a revoltar é a estupida maneira de escrever sms com "x" em vez de "ss", "k" em vez "q", "d" na vez de "de" e por aí fora. A parte boa vem agora. Eu escrevo axim sms. K kerem k faxa? e kuando estou no blog tenho tendencia para escrever axim. Logo tou smp a voltar atras pa emendar. Tenho de me deixar dixo. Sim, esta revolta é só de mim para mim. Também tenho direito á indignação e admiração pela minha propria estupidez e forma de ser humano. Não sou perfeito mas caminho para lá!
E esta falta de humildade que só me fica mal hein? Tenho de me começar a controlar.
E revolto-me por não me lembrar de mais nada com que me revoltar. Mas eu hei-de voltar. Até porque vou sair agora de casa, comprar tabaco e beber café, pôr gasolina e vou á praia. E lá vão 10 euros. E isto revolta-me!
Estou só ás voltas com a revolta envolta em mim!
Over and out

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Caracóis


Ía mesmo mesmo agora escrever para aqui mais qualquer parvoíce mas acabei de receber o convite irrecusável de uma boa caracolada.

E o Ti Agostinho fá-los melhor do que ninguém.

O sol ainda está quente e a cerveja mantém-se gelada.

Vou-me embebedar com caracóis.

Até já ou depois.

A seguir ao já vem o depois e depois não sei o que vem a seguir.

Palito numa mão, cerveja na outra, Escargot here i go.

Passatempo: Passar o Tempo

Passo o tempo a pensar em como passar o tempo.
Acontece-me sempre isto quando não há nada para fazer, e não gosto de não fazer nada, que é pior do que fazer o que não gosto.
Um dia por semana deparo-me com a obrigação de não ter a obrigação de fazer nada a que seja obrigado, o que automaticamente me obriga a fazer algo fora de obrigações.
Isto deixa-me numa posição de improviso e só improviso quando tem que ser...quando sou obrigado.
Por isso vou ter que fazer algo para passar o tempo.
O Sol está quente e a cerveja gelada. Se estivesse a trabalhar, estaria neste exacto momento a lamuriar-me de estar a trabalhar com o calor que está, e em vez da farda à pinguim, preferia os meus óculos escuros ao sol e a minha mão esquerda agarrada à gélida garrafa de cerveja.
Mas como não estou a trabalhar e não uso óculos de sol dentro de casa, tenho a garrafa de cerveja em frente a mim, que se deixa conduzir em curtos intervalos de tempo pela minha mão esquerda em direcção á minha sede.
Matar o tempo, matar a sede, matar o tédio...Mas que raio de assassino sou eu?
Em que espécie de serial killer me tornei por não ter nada para fazer além de matar?
Se calhar estou com tantas dificuldades em arranjar maneira de passar o tempo porque se calhar até nem quero que o tempo passe. E quando o tempo passar, amanhã já me estou novamente a lamuriar, com a indumentária do simpático pinguim a dizer que o tempo não passa.
Não passa porque vou estar a fazer algo por obrigação.
O Tempo e a Obrigação andam desencontrados, não se dão.
E eu aqui a passar por eles que me passam ao lado.
...

Foi preciso o último gole na primeira cerveja para concluir que afinal de contas o meu passatempo não é passar o tempo mas sim ocupar o tempo.
Ocupação: ocupar o tempo.
Agora não posso porque estou ocupado e estou contente por ser eu a escrever este post porque detestaria ter que ser eu a lê-lo, escrito por outrém.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Cicatrizes

Olhas-te no espelho.
A cabeça pesa-te como se tivesses vinte pedras da calçada sobre ela. Percorres os dedos pelo teu cabelo suado e fechas os olhos. Cai-te uma madeixa da franja sobre o olho direito.
Inspiras. Expiras. Inspiras. Expiras.
Abre os olhos e vês, nesse espelho, aquilo em que te tornaste. Repulsa. Sentes um gosto estranho na boca, são as culpas das tuas más desculpas que não te deixam fazer a digestão. Começas a sentir os arrepios e os suores frios, típicos de uma ressaca de opiáceos.
O teu odor mistura-se com o cheiro do teu creme. É estranho e difícil de identificar. Aquele cheiro não é o teu. Não és tu.
Sentes um formigueiro invadir as tuas veias e o desfalecer da tua pessoa, da tua alma, da tua essência. De ti! Tremes e olhas para o espelho e o que vês é um Outro que não conheces e que te assusta. Estás a desfalecer lentamente e acabas por, no chão frio, renderes-te a mais um dia mau da tua vida.

Se demoras muito o tabaco acaba-se e eu morro por falta de nicotina.

Dor de Estômago

Benvinda ao silencio que te acomoda no vazio, preenchido pela necessidade do que já não tens.
Recebo-te de braços abertos ó Dôr que te fingias esquecida na penumbra da lembrança.
Por breves momentos julguei esquecer-te e apagar-te, mas voltaste. E já que aqui estás, convido-te a entrar no abismo da minha Solidão.
Senta-te e acomoda-te, serve-te de qualquer coisa do bar vazio de embriaguês deturpada que tenho ali, no canto da sala.
Respira o fumo que eu fumo quando respiro e deixa-te cair por entre a densa névoa que o nevoeiro não deixa ver.
Não senti saudades tuas mas sinto que me deixas saudade no que me fazes sentir.
E contigo permanecerei lado a lado para todo o lado, sem ter para onde ir, nem voltar nem fugir.
Estava tão bem, quando a Sobriedade não estava.
Era como estar sozinho em casa e ter liberdade para não saber o que fazer. Mas agora sei que a
Solidão está solidária comigo e não me abandona nem tu me abandonas porque eu nunca vos quis abandonar.
Nunca senti falta do que nunca tive, e agora que preciso do que não cheguei a ter, já não tenho o que mais preciso.
Chegas-me ao estômago e era bem feito comer qualquer coisa, mas perdeste o meu apetite. Não sei o que lhe fizeste mas estás a magoá-lo.
Não te chega o que fazes comigo? Então deixa-me que o faça contigo para que tu sejas eu, que não sou ninguém.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Domingos Desinspirados

Acordaste de um sono de 12 horas e reclamas por mais cama. O Nada encontra-se à tua espera sentado numa cadeira da cozinha enquanto preparas o café. Pegas na caneca, fitas os olhos na sua direcção e perguntas, com os teus típicos modos matinais, o que é que ele quer. "Nada", responde ele. Ignoras-o. Nem te dás ao luxo de o mandar à merda. Ainda é demasiado cedo para lhe tecer elogios.
Vais até à sala e encontras a Preguiça sentada no sofá. Outra olhadela de esguelha, hoje juntaram-se todos, está visto. "Estava a ver que nunca mais vinhas", diz ela. E mais uma vez ignoras outro comentário daquela senhora. Nem ao domingo ela te larga. "Chega-te para lá que está a ocupar o sofá todo", dizes-lhe tu. Ela muda-se para uma cadeira, o que te deixa aliviado...e com espaço para te deitares. Ligas a televisão e verificas que na Sport TV vai começar as Moto GP-classe rainha. Mesmo a tempo, pensas tu! Circuito da Alemanha, pista molhada ou seja, quedas. Isto vai ser giro. O teu amigo Valentino Rossi esboça um sorriso para as câmaras e tu acenas-lhe e sorris, "Ciao Ragazzo!" Vês o Pedrosa e rosnas para o pequenote.
A corrida começa. A Preguiça manda-te uns olhares pelo canto do olho enquanto acendes um cigarro. "Não tinhas dito que ias deixar de fumar?", pergunta-te com um ar altivo. "Olha lá, mas eu hoje saí-te na rifa, é? Tenho de te dar explicações? Não. Portanto está caladinha e deixa-me ver a corrida." A gaja cala-se durante a corrida toda, até te esqueces que ela está ali a partilhar o mesmo ar. A corrida termina: Rossi em segundo, Stoner em primeiro. O Pedrosa, esse...caiu! (temos pena!) e tu radiante pelo desfecho.
O teu telemóvel indica que tens uma mensagem. É a Depressão a perguntar quando é pode encontrar-se comigo. Atrasaste-te uma semana minha querida, agora é tarde. Fica para outro dia e envias a mensagem telepaticamente.
Olhas para o relógio e pensas no que vais fazer. O sofá é um óptimo sitio para passares a tarde, mas tens fome e a Preguiça está a olhar para ti como quem diz,"Sim?".
Pronto, aquele olhar fez-te espevitar e num salto colocas-te em pé e vai de ir preparar qualquer coisa para comer. Arranjas algo rápido e sentas-te. À mesa juntam-se os restantes emplastros que tens vindo a ignorar desde que acordaste.
Agora que te sentes confortável e de barriga cheia perguntas aos restantes pseudo convidados o que desejam eles da tua pessoa. "Diz tu" respondendo ambos em coro.
Ora ora, pois...eu queria é ficar sossegada no sofá sem que vocês me chateassem, rematas. Mas eles insistem que está um belo dia para se ficar em casa aterrado num sofá enquanto se vê todos os CSI perdidos da semana. Então tu explicas que gostas do CSI e que realmente queres ver todos os episódios de fio a pavio e que se lixe que esteja bom tempo ou mau tempo, tu queres é ficar em casa sem fazer a ponta de um corno.
Mas eles não te largam, não te deixam cair na tentação que se instalou no teu corpo, a tentação do comando na mão estendida num sofá de pele preta. Não te resta outra alternativa a não ser elaborar soluções para chegarem a um acordo. Convence-los a sair para irem tomar um cafézinho sem a tua companhia, não é uma hipótese pois sabes que a Preguiça não vai em cantigas. Não te resta senão convidá-los para se sentarem contigo no mesmo espaço onde, está claro, se encontra a tentação do comando.
"Oh Preguiça, nós também não temos nada para fazer", diz o Nada. "Tens razão...Eu acho que estou a ficar com moleza", responde a Preguiça. E eis que tu dizes, "Óptimo! Então vamos deixar os nossos corpos decomporem-se no sofá enquanto o comando aprodece na minha mão, boa?".
Nisto olham-se mutuamente e aprovam a tua sugestão ao afirmarem com a cabeça em sinal de ok. Cada um levanta-se da cadeira e dirige-se para a sala. Preparas um café para cada um e colocas bombons recheados de menta no pires.
Apreciam-te o gesto e silenciosamente fazem-te companhia numa tarde de domingo.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Nada a assinalar

Quando vemos a nossa equipa de futebol a jogar, contestamos que o árbitro não assinala as faltas a nosso favor, não assinala os penalties a nosso favor; o fiscal de linha não assinala o fora de jogo quando comemos um golo...nada.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Surrealismos Insólitos 2ª Parte

Lembram-se da história que vos contei no texto "Elotórios Difamagios", onde me concentrei em conseguir algumas garrafas de água de meio litro da serra da estrela, para as encher com sangria?
Lembram-se de vos ter dito que depois de todos os esforços para conseguir as quatro garrafas de água (depois sangria) acabámos por nos embebedar com martinis a 2.50€?
Do que vocês não se lembram (porque não vos contei) foi que sobraram duas garrafas de água (depois sangria).
Então o que é que se sucede...?
Graças ao meu desleixo, e tendo em conta o facto de que uso uma mala á tira colo, grande, espaçosa e com muita arrumação, tal como a mala do sport billy, decidi manter essas duas garrafas dentro da mala...qui ça, para uma próxima ocasião.
Então durante dois dias do meu dia a dia, as garrafitas lá permaneceram e me acompanharam para onde quer que eu fosse.
Num belo dia de calor intenso, por volta das 18 horas, saio de casa para regressar ao trabalho. Vou porta fora, acendo um cigarro para ir a fumar pelo caminho até ao metro e ponho o ipod a bombar em shuffle.
Estação do metro e tal bla bla bla deixa la resumir isto...
Encontro-me á distancia de duas estações do meu destino e vou eu sentado num dos assentos da carruagem quase vazia e ouço...não! Sinto! Porque não ouvi nada devido á música aleatória que ia ouvindo pela viagem, um estalido...uma pequena explosão.
Algo sobressaltado e surpreso, e logo a seguir em pânico, reparo que depois dessa pequena explosão, começa a correr um rio que se ramifica e estende pela carruagem do metro. Rio este de sangria cuja nascente era o interior ja ensopado e tresandante a vinho da minha mochila.
Aquela merda rebentou meus!!!!
O que é isto man?!?!
Pá, vais no metro e a tua mochila começa a jorrar sangria pela carruagem fora? A tua não! Foi a minha!
Chego a Carnide, saio da carruagem com a esperança de ninguém ter reparado. Aproximo-me do primeiro caixote do lixo e começo a espremer a minha mochila para dentro deste.
O que terá originado isto?
O meu desleixo, a pressão do balanço das garrafas com um conteúdo gasoso já que continha 7up, ou o calor?
Eu acho que foi o meu desleixo, a pressão das garrafas com um conteúdo gasoso já que continha 7up e o calor.
Fui trabalhar a tresandar a vinho.
Sigam o meu exemplo:
Sou um exemplo a não seguir.

Permitido Fumar

Confirma-se o facto de que em praticamente todos os textos deste blog é referida a presença da nicotina.
Situação mencionada num dos mais recentes textos pelo nosso ilustre virgem.
Da mesma maneira que sigo a teoria de que nós é que nos suicidamos com o tabaco e não que "o tabaco mata" também, e a pedido de muitas familias decidi decretar desde já a lei da permissão do consumo de tabaco (tal como estupefacientes, alcool e pornografia) neste espaço.

domingo, 6 de julho de 2008

Surrealismos Insólitos

“Tudo me enjoa, tudo me irrita!” Grita o (meu) Manuel através das colunas do meu rádio antigo.
Mas não é totalmente verdade. Existe sim, coisas que me enjoam e que me irritam mas até que elas provoquem o exaltamento dos meus nervos, a minha paciência tem de primeiro sobrepujar os limites dos limites e transpor a red line.
Intitulo-me uma pessoa calma e tento não ferver em pouca água. Faço os chamados exercícios de relaxamento que tentei aprender nas aulas de Yoga, mas vejo que não têm tido sucesso, pelo menos para mim. Talvez a professora que eu tinha não fosse das melhores. Deveria era ter continuado nas aulas de Body Kombat. Ao menos gritava e dava murros nos gigantes braços do instrutor que era um calmeirão, do que ouvir Zen Garden e descobrir os chakras que devo ter, não sei onde e que provavelmente devem estar bloqueados pelo excesso de nicotina.
Nunca consegui relaxar nessas aulas. Minto, podemos afirmar que dormir é relaxar…Ora, então relaxei sempre! Antes da suposta sesta fazíamos exercícios de respiração acompanhados por movimentos circulatórios de braços e posturas pouco confortáveis onde pés, mãos, pernas e costas rodopiavam e com isso acabávamos numa figura de estátua, retirada de um livro de escultores de arte moderna, seguidos de suspiros que mais pareciam gemidos de filmes pornográficos.
No final, era pedido que nos deitássemos confortavelmente de barriga para cima. Ao som da relaxante música com fundos de gotas de água, a professora com uma vozinha estridente começava por nos contar uma história. “Imaginem uma nuvem branca que se dissipa no céu…” Nessa altura dávamos asas ao nosso imaginário versão Zen Power, aproximadamente durante 15 minutos.
Recordo, como se fosse ontem, que a nuvem branca que se dissipou no céu transformou-se num grande algodão doce que crescia vertiginosamente, que mais tarde veio dar lugar a uma bola gigante preta que se fundiu com uma luz muito brilhante, tipo eclipse. Acordei. Chamei a professora e contei-lhe o meu sonho na tentativa de ela clarificar a suposta mensagem. Qual não é o meu espanto quando a senhora, de olhos arregalados e com uma expressão de quem pressentiu a vinda do Apocalipse, agarra-me pelos braços e diz “Minha querida, você não está bem. Tem tendências auto-flageladoras”.
Isso tudo porque o meu algodão doce mudou de cor? Então, e se eu tivesse sonhado com chupa-chupas de anis que na altura existiam e que eram pretos?
Escusado será dizer que nunca mais lá pus os pés. E a ideia de cortar-me, não me fascina. Prefiro rever o filme “A Pianista”.

Hoje reformulei a minha atitude paciente para com um empregado de café que me serve, como sempre, com atitudes enjoadas e irritantes. Após a sua simpatia com que me habituou, achei que estava na altura de lhe agradecer tão afáveis comportamentos quando lhe dirijo as cordialidades básicas acompanhadas por um sorriso. Paguei os cafés com moedas de 5, 2 e 1 cêntimo. E antes que ele pudesse abrir a boca pela primeira vez, rematei “Ora aqui tem, moedinhas para os trocos. Está certo”.

sábado, 5 de julho de 2008

Visões do além


Como prometido no post anterior, aqui vai a historia da minha maninha com o novo querido. O puto é um porreiro e ( o principal) parece que gosta mesmo dela. Abençoado.
Mas tive uma visão que mais parecia do além! ( Antes fosse. Ao menos não tinha sido comigo ao pé)
Não é que entro pelo quarto adentro e deparo- me com, a minha irmã, o namorado e...o instrumento de urina e prazer dele completamente desprovido de qualquer indumentária!
Os tres a dormir!
Fui para a sala.
Tive pesadelos horriveis. Ainda hoje essa imagem me assombra os sonhos.

Morte ao despertador!!


Tenho uma guerra privada a decorrer neste momento. O despertador é o meu alvo a abater. Ele tenta a todo o custo que eu me levante. A cama ( e ás vezes o sofá) é que não me deixa. E ele queixa- se que fico chateado? Pois está claro companheiro. Só me acordas a horas impróprias! Então não é que sofri duas retaliações no curto espaço de dois dias? Passo a contar.
Na madrugada de quinta para sexta- feira dormi em casa de outro nobilíssimo autor deste mesmo blog, 13. Peguei no telemovel para acertar a hora de acordar ( telemovel manhoso já que o meu avariou) e vi logo uma expressão de gozo no ecrân. Mas não liguei. Nunca pensei que ele me fosse aprontar alguma. Não tocou e desligou- se durante a noite. Pior que isso foi a vil conspiração que fui alvo ao aperceber- me que até o telemovel do 13 não tinha tocado também! Acordei ás 9 da manhã quando era suposto fazê- lo três horas antes. Cheguei com quatro horas de atraso ao trabalho ( desculpa Américo)!!
Assim que cheguei ao emprego tratei de pôr o dito traidor aparelho a carregar. Assim que o ligo tenho uma mensagem de boas vindas: " Bom dia"!! Bom dia meu cão??? É quase meio dia porra!
Ontem á noite ( e isto traz- nos outra historia paralela, a da minha irmã a dormir no quarto com o novo namorado mas isso é tema para outra bloguisse) cheguei a casa cedo, meia noite nem tanto, e, qual cidadão responsável, deitei- me de seguida.
Acertei o despertador novamente e tive uma conversa séria com o telemovel. Fi- lo ver que ele tem de compreender que eu quando acordo fico mal disposto e que ele não pode ficar ofendido, como fica a minha mãe quando me chama para jantar e não vou logo! E disse- lhe que tinha perdido a confiança nos seus préstimos e que teria de chamar um outro despertador para o auxiliar. Reacção? Não tugiu nem mugiu. Impávido ficou. Desconfiei. Mas lá adormeci.
Toca o despertador de manhã. Toca igualmente o despertador de apoio. Levanto- me de um pulo. Não queria que me voltasse a acontecer o mesmo da manhã passada. Tomo o banho e saio de casa. Chego ao carro, ponho o auto- rádio e olho para as horas. 5h25 da manhã!!! Até vou escrever por extenso para tentar dar outro ênfase á coisa: cinco e vinte e cinco da manhã.
Olho para o telemovel e 6 da manha era a hora que indicava o ecran! Não percebo. E mais incompreensivel é o facto de 2 (dois) despertadores darem a mesma hora errada.
Olha, pensei, vai render o teu colega mais cedo para o tentares compensar do descomunal atraso do dia anterior.
Conclusão a tirar disto tudo. Não tenho. Não sei. Mas estou com medo. Ainda me faltam quatro dias neste horário e acho que mais actos terroristas cobardes vêm a caminho!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Para os futuros ex..

It seems to me that maybe
It pretty much always means no
So don't tell me you might just let it go
And often times we're lazy
It seems to stand in my way
Cause no one no not no one
Likes to be let down


The harder that you try baby, the further you'll fall
Even with all the money in the whole wide world
Please please please don't pass me
Please please please don't pass me
Please please please don't pass me by

Everything you know about me now baby you gonna have to change
You gonna have to call it by a brand new name
Please please please don't drag me
Please please please don't drag me
Please please please don't drag me down

Just like a tree down by the water baby I shall not move
Even after all the silly things you do
Please please please don't drag me
Please please please don't drag me
Please please please don't drag me down


Na sequência da nossa conversa hoje de manhã.. A vida é isto amiga Rute. Uma boa música faz- nos sempre ver o outro lado do negativo! ;)
E homens não há muitos, mas os que há e o que tiver que ser teu, vai ser sempre melhor que o último.
Até ele próprio se tornar no último!

Réplicas


Pior que uma noite mal dormida, devidamente justificada pelo excesso de informação que sou obrigada a reter, é o acordar com os gritos incessantes de uma criança de 2 anos e meio. Esses mesmos gritos ecoam por toda a casa. Os gritos e a “Arca de Noé” que lhe foi oferecida e que ela tanto estima, mesmo quando atira-a ferozmente contra o chão. Realmente tiro o chapéu à qualidade do produto. Entre pancadas e murros e “ups, caiu” aquela coisa continua a tocar altivamente, como se tivesse vida própria.
Tipo zombie, arrasto-me fora da cama dirigindo-me ao café que se encontra devidamente preparado para a minha pessoa. Quero café, já! Ignoro os pedidos de “tia, a pé, a bebé” que se repetem e repetem e repetem. Após o assentar da cafeína no estômago, acordo ligeiramente e grunho qualquer coisa do estilo “Não sei, acabei de acordar. Vai perguntar à avó”. Mas entretanto a pé e a bebé não são importantes. Numa corrida louca acompanhada pelos famosos gritos tarzanianos (que tão bem ela reproduz), busca incessantemente a trela da cadela. Como por efeitos mágicos reaparece com o seu boné cor-de-rosa e os respectivos adornos do meu animal.
“Tia. Ua ua. Pi. Cocó”. Tradução: “Tia, vamos à rua levar a Zippy a fazer cocó”.
Eu só quero beber o meu café descansada, fumar o meu cigarro, pensar no que tenho para fazer e planear resumidamente o meu dia, mas sou interrompida nesses meus simples desejos. Fecho os olhos. Respiro fundo. Ela não percebe que eu não funciono muito bem na primeira meia hora, depois de acordar.
Visto a coisa mais prática, coloco os óculos de sol que tapam os meus olhos papudos-acabados-de-acordar.
O dia está solarengo, demasiada luz para mim. Encontro vizinhos que se dirigem à pastelaria, outros levam pão para casa. A repetição dos” bons dias” sucede-se. Puxo de um cigarro e observo o contentamento da “minha” criança que outrora foi apadrinhada pelos queridos habitantes desta terriola como “minha filha”.
As pessoas quando não têm mais nada que fazer inventam coisas. E como eu sou uma moça com um feitio bestial, dei continuidade às suas suposições ao colar no vidro do meu carro um autocolante a dizer “nenuko a bordo”. Foi um festim! Não tinha só uma filha como também estava grávida de outra. E o pai? Ninguém sabia quem era!
No melhor pano cai a nódoa, disseram uma vez à minha mãe. Mais tarde perceberam que a minha mãe era realmente avó, mas não fui eu a oferecer-lhe esse título.
A minha sobrinha, que é ainda para alguns minha filha, e a minha cadela que é a minha cadela correm energicamente atrás dos pombos numa tentativa frustrada de os apanhar. Eles voam refugiando-se nas palmeiras. Apago o cigarro, chamo as meninas e juntas caminhamos em direcção a casa onde nos espera uma “Arca de Noé” freneticamente barulhenta acompanhada por latidos cantados.

Um dia, tiro as pilhas.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Sexo, Drogas e Rock &Roll

Já lá vai um tempo desde o meu último texto e hoje não me encontro aqui para conspirar sobre ninguém nem para atribuir a culpa á merda.
Apetece-me escrever sobre os prazeres da vida, e o que me dá prazer na vida são os três prazeres da vida que tanto me dá prazer.
Ora então, se eu vos perguntar frontalmente se tiverem que optar entre o nome do pai do filho e do espírito santo e o sexo, as drogas e o rock & roll, o que me responderiam?
A segunda opção?
Mas que raio de crentes são vocês?
Não acredito!
Vamos lá a ver uma coisa...
Nascemos...bla bla bla e damos por nós e até já temos consciência própria e tudo. E o que fazemos? Pensamos que aquilo que pensamos é que está correcto e toca a seguir e desenvolver aquilo em que acreditamos.
Da minha parte, sei que não sou exemplo para ninguém...muito pelo contrário, sou um exemplo a não seguir!
Se sou um exemplo a não seguir, automáticamente já estou a ser um exemplo para alguém...
Eu posso muito bem ser benevolente para a sociedade se se basearem em mim como um exemplo a não seguir. Mas nesse momento se já estão a seguir um exemplo a não seguir, logo sou um exemplo a seguir! Uma linha de orientação.
Pois que trago comigo os meus benefícios para com os outros, de uma forma involuntária!
Então, encontro-me naquela idade dos vinte e poucos (faço 31 daqui a 50 dias) e continuo a levar uma vida como se tivesse vinte e poucos...e depois?!?!
Com que devo preocupar-me se quanto mais conquistar enquanto vivo mais vou desperdiçar quando morrer?
Com os meus filhos? Eles que se arranjem, ja que seria um pai exemplar ao dar um exemplo do exemplo a não seguir.
O pessoal agora anda numa de criticar o sistema de saúde para aqui e para acolá, mas estou um bocado confuso quanto a isso...saúde saúde...mas vocês querem morrer em bom estado é?
Querem ir para a campa bonitos e atraentes com o fato de defunto da colecção outono-inverno da zara? ou preferem morrer no verão?
Vocês mulheres, querem ser enterradas (nada de sexualidade neste enterrar) com as mãmas praticamente á mostra como tanto se vê nesta nova tendência fashion dos decotes quase sem decote onde daqui a poucos anos (acho que estou a ser "naif"), ou mesmo meses ou horas já se mostram os mamilos e tudo?
Vocês têm a noção que as vossas filhas de treze anos vos vão dar uns maravilhosos netinhos quando ainda nem estão prontas para saborear a depressão dos vossos quarenta (40) 40 (quarenta) anos?
Ir para a "naite" provocante tudo bem,. Até eu sou capaz de borrifar o meu esqueleto com um desodorizante barato quando vou sair á noite só para disfarçar o tresandar da transpiração da merda de trabalho que tenho antes de ir beber uns copos e controlar umas gajas.
Sinto-me provocante e convidativo (lol)!
Mas agora andarem a pavonear-se com as mamocas praticamente ao léu no centro comercial e na mercearia (se é que ainda existe alguma) é que ja me faz, digamos que, espécie.
Não estou a dizer nada com nada mas estou a dizer objectivamente tudo o que quero em vários contextos ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo não. Simultaneamente. Soa melhor para quem escreve!
Mas como não tenho jeito para escrever (caso contrário escrevia um livro e não num blog), prefiro escrever ao mesmo tempo.
Voltando á saúde.
O centro de saúde de mafamude ou de gulpilhães fechou! Oh meu deus que desgraça a minha que tenho 300 anos de idade e precisava de lá ir adiar a minha morte certa. Oh merda que agora não está lá a minha médica de família para me passar uma baixa de incapacidade física (também conhecida pelo nome científico de preguicite desmedida crónica acentuada).
Então a quem vamos atribuir a culpa?
Ao Governo!
Então e quem vota no partido que está no governo?
Vocês!
Merda, afinal já estou a conspirar.."no problemo", por um lado até fico mais descansado porque assim já dou juz ao nome do blog.
Agora a sério.
Imaginem que levam uma vida longa a trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, e chegam a casa e os filhos, os filhos, os filhos, os filhos, estão doentes, tiveram nega a matemática, levaram nos cornos dos grandes do 5º ano, os filhos, os filhos, os filhos.
A mulher que tem aquelas merdas nas pernas que não me lembro o nome...
Varizes! Lembrei-me.
A mulher tem varizes de passar muitas horas de pé no trabalho, trabalho, trabalho, e já não me atrai sexualmente ou porque a mulher tem umas pernas bonitas sem varizes que me atraiem mas aos colegas dela também e ela não é de ferro e tu...bem tu, a esta hora deves estar a trabalhar, trabalhar, trabalhar.
E depois têm a vida mais curta onde não tens mulher, mas tens gajas, onde não tens filhos mas tens as filhas (de outras mulheres), na flor da idade abertas a novas experiências e novas sensações; abertas de pernas abertas, e tens o rock & roll e tens a cerveja, o whiskey, o medronhos, o vinho do porto, o martini servido num elegante copo com dois dedos de martini, três pedras de gelo, uma meia lua de limão do tamanho de uma meia lua vista daqui de baixo, um ramo de hortelã e uma palhinha preta cravada no líquido, tens o haxixe, a coca, os ácidos, o lsd, o benfica, a seleção caralho!!!
o que preferes sinceramente?
Vá lá, podes dizer.
A merda é continuar vivo depois desta vida vivida no paraíso em vida, na terra. Equanto existes.
Mas pronto, depois ficas maluquinho e estás na merda!
A mulher com varizes não te deixa maluquinho?
O filho que até teve boas notas mas cagou em ti a partir do momento que conseguiu a sua autonomia e a sua gaja sem varizes não te deixa maluquinho?
Sexo, drogas & rock & roll devia constar na biblia!
É uma opção de vida, e depois?!?
Estás a ver a minha vida?
Não sigas o meu exemplo.
Sou um exemplo a seguir.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Diz Posição II

Adriana Molder


Elevator straight into my skull
The escalator rises as it falls
I swear our chant is crashing in my mind
You can hold on but I wouldn't waste your time

Farewell my black balloon
Farewell my black balloon

I've stood in a thousand street scenes
Just around the corner from you
On the edge of a dream that you have
Has anybody ever told you it's not coming true

Farewell my black balloon
Farewell my black balloon, the weather had it's way with you
Farewell my black balloon, the weather had it's way with you
Farewell my black balloon
(The Kills-Black Balloon)


Há dias que sentimo-nos assim...agradavelmente bem.