Odores Gastronómicos

Como já mencionei há dois posts atrás, trabalho num restaurante.
Neste tipo de trabalho, deparamo-nos diariamente com vários tipos de odores: bons, maus, suaves, agrestes, doces, azedos, acolorados, avinagrados, por aí fora.
Um dia destes houve, em que me encontrava em conversa com a cozinheira chefe, e concluí com imediata afirmação de que a comida estava a cheirar bem.
"Epá este arroz cheira bem. Dá vontade de o comer directamente do tacho. Está com um cheirinho mesmo apetitoso."
Com a maior satisfação e previsível conveniência, a minha colega, senhora dona chefe de cozinha, anuiu alegremente com um ligeiro sorriso raramente dirigido a quem quer que seja.
Já depois de algumas horas após a nossa amena conversa, com elogios gastronómicos pelo meio, e chegada a altura do cumprimento das horas laborais suficientes para ganhar mais um dia de trabalho, a respeitável chefe das práticas do bem cozinhar, despede-se de todo o staff do restaurante com as seguintes palavras: e passo a citar mais coisa menos coisa como isto: "Até amanhã pessoal. Estou desejosa de chegar a casa e tomar um banho para tirar este cheiro a comida que se me entranhou."

...

Ok.
Lá estou eu com as minhas merdas.
Mas se a comida cheirava bem, para quê o banho?
Quando eu saio de casa para ir trabalhar, ponho perfume.
Que cheira bem.
Vocês não estão á espera que me vá lavar antes de entrar ao serviço para tirar o cheiro do perfume, certo?
Então para que raio o banho para tirar o cheiro da comida que cheirava bem?
Achei por bem dizer-lhe isto, e acrescentei que quando ela (a chefe), chegasse a casa, se enfiasse na cama com uma boa lingerie e aproveitar o delicioso aroma daquele refogado para satisfazer o marido que, por sua vez lhe daria imediatamente vontade de a comer!
Levou a mal.
Está chateada comigo e não me fala.