quarta-feira, 16 de julho de 2008

Cicatrizes

Olhas-te no espelho.
A cabeça pesa-te como se tivesses vinte pedras da calçada sobre ela. Percorres os dedos pelo teu cabelo suado e fechas os olhos. Cai-te uma madeixa da franja sobre o olho direito.
Inspiras. Expiras. Inspiras. Expiras.
Abre os olhos e vês, nesse espelho, aquilo em que te tornaste. Repulsa. Sentes um gosto estranho na boca, são as culpas das tuas más desculpas que não te deixam fazer a digestão. Começas a sentir os arrepios e os suores frios, típicos de uma ressaca de opiáceos.
O teu odor mistura-se com o cheiro do teu creme. É estranho e difícil de identificar. Aquele cheiro não é o teu. Não és tu.
Sentes um formigueiro invadir as tuas veias e o desfalecer da tua pessoa, da tua alma, da tua essência. De ti! Tremes e olhas para o espelho e o que vês é um Outro que não conheces e que te assusta. Estás a desfalecer lentamente e acabas por, no chão frio, renderes-te a mais um dia mau da tua vida.

Se demoras muito o tabaco acaba-se e eu morro por falta de nicotina.

2 comentários:

Sá Gouveia disse...

Opiáceos? Hmmmmm isso parece-me muito Trainspotting, o filme cuja premissa dramática poderia ser descrita com o título: "Em Busca do Supositório Perdido".
Continuo a bater na mesma tecla (em relação à escrita é claro) :p

Anónimo disse...

adoro quando me entendes.....